Numa cidade remota, em sua casa, um médico depara-se com 3 ratos mortos. Ao confrontar o porteiro com a situação, ele garante que “Nesta casa não há ratos!”. No entanto, nos dias que se seguem, depara-se com um número crescente de ratos mortos e de doentes com o mesmo tipo de sintomas. São sintomas de uma epidemia e todos sabem de que se trata. Mas todos, incluindo as autoridades locais, negarão a verdade enquanto for possível, desvalorizarão o caso pois o pânico deve ser evitado.
Tal não passa de um pensamento errático: negar os factos não os muda e quando a epidemia se espalhou, foi necessário dar-lhe um nome: A Peste,
Seria melhor um terremoto,porque após os abalos contam-se os mortos e não se fala mais nisso, mas a peste mata todos os dias.
Por aqui, nesta nossa casa, de pouco servem as medidas tomadas: isolaram-se alguns ratos e esqueceram-se da contaminação. Ao convivermos nesta realidade, é possível que tenhamos alguma responsabilidade, pois todos nós , durante anos, permitimos e fomos benevolentes com os ratos.
Só resta uma solução: descobrir a fonte, dizima-los. Quando se vê os efeitos que ela traz é preciso ser covarde para se resignar. Se tal não for feito, estes ratos de hotel, gatunos com aspeto elegante, tomarão a vida de quem não merece.
Como acréscimo, resta-me dizer que a mesquinhez dos ratos não vê barreiras. Entre as consequências, deixo um ínfimo exemplo, dentro do que nos é permitido verbalizar (quanto aos mais nocivos, esperemos): nós, na nossa boa vontade, propusemo-nos a promover o espaço de solidariedade do ISEL, o Espaço Partilha. Criamos um cartaz, foram percorridos todos os procedimentos institucionais, enviamos para o Gabinete de Comunicação e foi aprovado. O único objectivo era, naturalmente ajudar a comunidade do ISEL com maiores dificuldades económicas. Mas nem um par de dias se passou e os cartazes foram retirados. Motivo? Não sabemos e aguardamos resposta, mas por coincidência, a exímia Susana Teque, tema desta edição, havia voltado. É curioso observar como os interesses, talvez inspirados em pensamentos vis, se sobrepõem aos valores.
Aparte deste exemplo dos braços da peste, existem ainda os pobres de espírito mas, ainda assim humanos, que se deixaram contagiar: um grupo de jovens que, de foice em punho, alegava combater o cancro da associação e lutar pela verdade e transparência, agora vê-se contagiada pela mesma peste – até ver, resistem a apresentar documentos que seriam do maior interesse dos alunos. Depois de uma carta enviada por nós há bem mais de um mês, à qual não obtivemos resposta, optamos por insistir por via electrónica. Após uma resposta mal dada, como quem desconhece a sua própria casa, propusemos a realização de uma reunião. E agora vemos o óbvio: o silêncio, movido pelos sintomas da peste.
Se a honestidade pode vencer a peste , também pode vencer a corrupção. Até lá, enquanto membros desta casa, de nada nos serve sentir pena seja da sociedade ou de nós próprios e ainda menos alimentar o estado de submissão bajulante, já que as pessoas cansam da piedade quando a piedade é inútil.
Mesmo quando o reino anuncia que a peste pertence ao passado, de nada nos serve ignorar a verdade: o bacilo da peste nunca morre, apenas adormece, e cabe-nos a nós evitar o seu despertar. IB
em itálico: excertos de "A Peste" de Albert Camus
em itálico: excertos de "A Peste" de Albert Camus
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