terça-feira, 17 de novembro de 2015

PONTO-A-PONTO : A Embrulhada do ISEL

Tudo o que contamos e o que ficou por contar. Um guia para não se perder no labirinto sem fim de negócios do ISEL, criado sobre o olhar paternal de Carlos Quadrado, à margem de quem o procura ignorar.

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Contratos com empresas de familiares, com empresas de amigos, adjudicações directas duvidosas e toda uma cadeia de influências, que demonstra que é muito fácil gastar o dinheiro público sem que seja o público o beneficiado.
À primeira vista parece um esquema complexo de filmes como o “Gangster Americano”, ou talvez as ligações pessoais e económicas das grandes empresas públicas portuguesas, com os partidos. Não foge muito à realidade. Na verdade, todas estas empresas relacionam-se com o ISEL e não é pelos melhores motivos. 

Diz-se na gíria que é de pequenino que se torce o pepino, e o ditado popular aplica-se bem no ISEL, mais concretamente na AEISEL. Certamente que os mais velhos – os veteranos –, e mesmo os restantes alunos e docentes, já ouviram falar da famosa dívida que a nossa associação tem para credores como o IPDJ. Ora, uma dívida de 80.000,00€ a este organismo público, que estará em execução, terá origem no mandato de Frederico “Fred” Saraiva – conhecido militante do PSD, como tantos outros de que falaremos adiante –, constando do programa de apoio estudantil. Esta quantia está a ser reclamada pelo IPDJ desde que Ricardo Brites – da Juventude Comunista – foi empossado em Novembro de 2014. A título de curiosidade, também na direcção do IPDJ estarão militantes do PSD e JSD. 

Se bem que a AEISEL ficou com fama de ser a testa-de-ferro do “Fred”, tornou-se, pela mesma altura, empreendedora e ofereceu viagens a Los Angeles e Las Vegas a um dos seus dirigentes, João Silveirinha, por forma a este poder apresentar um projecto da sua autoria numa conferência de Engenharia. João Silveirinha, o jovem a quem a AEISEL depositou tanta consideração, abriu ainda uma empresa unipessoal e ofereceu-se, a troco de 25.200,00€, enquanto aluno, para a manutenção de instalações eléctricas em vários edifícios do ISEL, através de um contrato celebrado entre si e o ISEL, na pessoa de Carlos Quadrado. E este nome leva-nos ao topo da hierarquia desta instituição e a forma como funcionou durante o seu mandato. 

Carlos Quadrado, também conhecido pela sua militância no Partido Social Democrata, é ainda amado por uns e odiado por outros, tendo pautado toda a sua governação por uma autocracia que lhe é reconhecida por muitos dos que, com ele, lidaram de perto. Muito há por escrever sobre o último Presidente do ISEL – desde o seu legado de dívidas, nomeações, às táticas políticas que atropelaram qualquer sentido de responsabilidade a que o cargo lhe obrigara –, mas num jornal não caberia com o merecido detalhe que as boas práticas exigem.

Comecemos, pois, pela Geometrivinil. Como já noticiado, esta empresa celebrou um contrato com o ISEL no valor de 14.608,00€, pela mão do amigo de Carlos Quadrado e coordenador dos Serviços Técnicos, Paulo Neto. Ora, a mesma empresa, ao mesmo tempo, outorgava outro contrato com a Câmara de Almada, onde o apelido Quadrado aparece como um factor comum. Desta vez, tratar-se-ia de Ana Filipa Quadrado, ao que parece esposa do então Presidente. 

Antes do contrato da Geometrivinil com ISEL, já Paulo Neto executava o seu trabalho pelo instituto: Um ano antes, em 2009, perante o surto de Gripe A, os Serviços Técnicos propuseram uma solução: encomendar 15 computadores para os órgãos diretivos do ISEL “assegurarem a gestão à distância”. Este projeto custou ao ISEL 18.944,49€, tendo sido adjudicada a uma empresa de um aluno e futuro técnico de Informática do ISEL - Nuno Alves Pires, da JPN - Tecnologias Informáticas e Serviços.
Por sua vez, em 2007, foi assinado um contrato entre a AEISEL e uma empresa de construção, Alberto Silva Construção Unipessoal, destinado para as obras o edifício L. A mesma obra fora fiscalizada pelo arquitecto Paulo Neto mas, menos de um ano depois, o mesmo recebia uma carta da Direção da AEISEL, assinada por Frederico Saraiva, a solicitar uma série de reparações nas áreas intervencionadas nessa obra, afirmando que se tratava de um “presente envenenado oferecido à AEISEL”.

As coisas confundem-se ainda mais quando se trata do Gabinete de Marketing e Comunicação, liderado por Susana Teque Florêncio. Todo o seu historial se torna duvidoso desde a sua contratação, ainda em formação académica e num concurso que suscitou igualmente duvidas. O apelido já não era novo no ISEL, já que o seu irmão, Ricardo Teque Florêncio também fez parte da equipa do Gabinete de Marketing e Comunicação, na sua curta passagem em 2007. De todas as situações duvidosas que poderíamos aqui descrever, sem dúvida que a organização do  World Engineering Education Flash Week, organizado pelo ISEL e que decorreu no Pavilhão Atlântico, se destaca. Ao que parece, o Gabinete de Marketing e Comunicação do ISEL, um órgão interno, considerou - certamente na pessoa da sua coordenadora - não ter condições para organizar tamanho evento; pelo que rapidamente se apressou por delegar funções a Ricardo Teque Florêncio, na sua qualidade de Marketing Communication Manager.

Ricardo Florêncio, fundou também uma agência de publicidade – AIM Digital Agency.  Esta tem uma carteira de clientes que nos é conhecida: Bitwoci de Frederico Saraiva, Associação Académica de Lisboa e até mesmo o ISEL – foi responsável pela criação do logotipo da incubadora de empresas Open ISEL, como se não existisse um gabinete de marketing no ISEL capaz de o fazer.
Com o Open ISEL, surgiu, em 2008 a start-up Dailywork – Investigação e Desenvolvimento, Lda, resultado de uma parceria entre o ISEL e a Brisa. Com sede na Marinha Grande e um escritório no ISEL – mais precisamente na sala E.0.03, tem como sócios-gerentes e acionistas António Serrador, docente do ISEL e Ricardo Prata, ex-aluno e atual investigador do ISEL. Poderia ser apenas uma mais valia para o ISEL, não fosse a existência de um contrato adjudicado à mesma, por parte deste instituto -  19.200,00 €  para a fase final de desenvolvimento (produtização) do dispositivo Via Verde. Um excelente começo para uma start-up com pouco mais de um ano de atividade, localizada dentro do ISEL, gerida por funcionários do mesmo. 

Entre os caminhos do ISEL, já há muito que se ouvia falar de outra história: um serviço de estafeta do expediente interno do ISEL. Afinal, o ISEL talvez seja um pântano imensurável, sendo necessário um serviço externo para enviar documentos de um edifício para outro. Esta missão custou 6.000,00€ em 2009 e foi adjudicado à RBL Graphics Unipessoal, Lda. Esta empresa tem Veorica Volcova como Sócia-Gerente que, por mero acaso, é esposa de Rafael Barrocal Leitão, parceiro de Frederico Saraiva na gerência BYSQUARE, Lda. “Fred” Saraiva à data era um homem ocupado com duas direções: a da AEISEL e da AAL.

Passemos por fim à Tânia Figueiredo, uma personagem já antes mencionada por nós, exatamente por ser coordenadora dos serviços financeiros do ISEL, desde 2010. Depois das discordâncias de Pedro Ribeiro, antigo coordenador, com o exímio presidente Carlos Quadrado – chegando o ultimo a dizer-lhe “O teu tempo de graça já acabou”, esta sucedeu-o logo de imediato, assim como dezenas de contratos à margem das boas práticas orçamentais. Por ela passaram todos os contratos de empresas relacionadas com funcionários do ISEL, em particular a Geometrivinil de Paulo Neto e a Electrocoop, onde trabalhava um docente de ADEC.
A novidade aqui talvez esteja em Ricardo Pereira, esposo de Tânia, já conhecido pelas suas negociatas com o IPL. Este empresário é sócio-gerente de duas empresas: RICARDO JORGE PEREIRA, UNIPESSOAL e MANUCONCEPT,LDA – da qual detém 60%. A primeira foi presenteada com 2 contratos com o IPL entre 2010 e 2011, por um valor que ascende os 110.000,00€. A segunda, teve, até agora, 6 contratos com o IPL desde 2013, curiosamente todos por ajuste direto. Mas vamos salientar os 2 últimos negócios públicos, executados em 2015:
Recentemente, em Julho deste mesmo ano, foi adjudicada uma empreitada no edifício da presidência do IPL, no valor de 30.299,67€. Em Maio, teve lugar a obra de 20.000,00€, para manutenção das instalações do SAS-IPL. Por coincidência, em Março do mesmo ano, a abertura da sala de micro-ondas do ISEL era anunciada, encontrava-se em fase de concurso e seria adjudicada pelos SAS-IPL muito brevemente.

Estes são apenas alguns exemplos do que se sabe até hoje relativamente à má utilização de dinheiro público. Fica mais uma vez patente que a rede construída durante anos por Carlos Quadrado estende-se muito para além do ISEL.

Errata: Ricardo Teque Florêncio e Susana Teque Florêncio não são irmãos, são casados.

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