Bernardo Barbosa, durante a reunião geral de alunos, num comum delírio saudosista romantizado, dizia “Eu amo a democracia”. Esta pequeno conjunto de palavras, aparentemente desprovida de valor, fez-me lembrar um conceito que absorvi há já algum tempo, desde que comecei a lidar com associações da área da Juventude: os pseudo-tecnocratas, uma nova categoria de políticos que prima pela visão amoral dos sistemas sociais e económicos, onde a palavra passou a ser retórica e manipulação.
Não é segredo nenhum de que a
trajectória de muitos que trabalham em associações passa ou termina na politica
das instituições e dos partidos – em particular nas associações de estudantes, que
são o trampolim acessível de muitos dos que lá passam. E isto leva-me a
questionar as intenções – quando Bernardo Barbosa foi convidado para pertencer
a uma lista para a AEISEL, exigiu encabeça-la. Tal ato daria uma boa análise
sobre os dois tipos de política: politica com “p” minúsculo – de partidos, a
mais fácil – e politica com “P” maiúsculo – a cidadania, o voluntariado, a
participação activa na comunidade.
Para o objectivo de uma associação de
estudantes, a política prioritária deveria ser a segunda. Mas tal requer tempo,
maturidade e acima de tudo responsabilidade, sem egos e sem jogos de poder –
algo que nunca se viu nas ultimas direcções da AEISEL, em particular nas do também
ex-autarca Frederico Saraiva (até 2010), João Assunção (até 2014) e Hugo de
Carvalho (2012 a 2014), onde o bem da AEISEL e dos estudantes nunca foi
prioridade. Esta sede de poder que nunca se separou do partidarismo e dos
benefícios pessoais deixou pontas soltas, sendo por isso necessário um novo
representante para apagar o rasto - Bernardo Barbosa.
Com isto, não quero dizer que
censuro quem pertence a um partido. O que me repugna aqui são os ninhos de
ratos, os que praticam a politica dos amiguismos, que não chega às pessoas e
não resolve os problemas, cheia de discursos inflamados entre egos, jogos sujos
e de desprezíveis “Yes, man” – dizer sim porque lhes foi imposto, sem pensar,
sem debater, sem questionar.
Todos estes exemplos foram perceptíveis
na última Reunião Geral de Alunos – mediante o confronto, um violento Hugo de
Carvalho enraivecido quase que foi arrastado para fora da sala. Para alguém que diz que ama a
democracia e a política, Bernardo devia usa-la sempre e não apenas quando lhe
convém: deveria ter chamado Hugo Campos de Carvalho à razão, em vez de
ignorar que “a ignorância ou má interpretação da lei não justifica a
falta do seu cumprimento” e tentar
impedir a expulsão e
impedição de votar de Hugo Campos de Carvalho, depois deste perturbar o bom
funcionamento dos órgãos democráticos; em vez de vomitar correções de
minudências e discursos demagógicos repletos de tiques partidários – subtis
ataques a este jornal e a outras pessoas, poderia debater, discutir. Admito que
até concordei e apoiei algumas dessas correções – meras minudências, alusivas
ao calendário eleitoral. Afinal, é necessário saber dar razão a quem a tem.
Quanto a ideias e opiniões mais elaboradas, parece não ser capaz de as ter por
vontade própria – limita-se a fazer o que lhe mandam, arremessando o que lhe
pedem.
O candidato a presidente que se
autonomeou, mais uma vez apelando às emoções, dizia também que se sentia
magoado por ver o que ele considerava serem afrontas à democracia. Desta vez,
neste jornal foi-me difícil fazer humor com isto: para quem já está na direção de uma juventude partidária
de um grande concelho, ganhar uma AE é um salto para as federações,
instituições, autarquias e assembleias – para quem tem más intenções, basta não ter escrúpulos e
conhecer os atalhos políticos. Aqui, o que me magoa mais é saber que esta
corja um dia poderá tomar decisões por muitos de nós; é saber que existem tantas
pessoas como o Bernardo – aspirantes a políticos profissionais,
pseudo-tecnocratas que apenas aspiram o poder. E isto magoa-me ainda mais, pois
a existência de Bernardo Barbosa é uma afronta à democracia, à cidadania e ao
futuro da AEISEL. IB
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