quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

ED14 - Editorial - “Demokratus!” disse o tacho


Bernardo Barbosa, durante a reunião geral de alunos, num comum delírio saudosista  romantizado, dizia “Eu amo a democracia”. Esta pequeno conjunto de palavras, aparentemente desprovida de valor, fez-me lembrar um conceito que absorvi há já algum tempo, desde que comecei a lidar com associações da área da Juventude: os pseudo-tecnocratas, uma nova categoria de políticos que prima pela visão amoral dos sistemas sociais e económicos, onde a palavra passou a ser retórica e manipulação.

Não é segredo nenhum de que a trajectória de muitos que trabalham em associações passa ou termina na politica das instituições e dos partidos – em particular nas associações de estudantes, que são o trampolim acessível de muitos dos que lá passam. E isto leva-me a questionar as intenções – quando Bernardo Barbosa foi convidado para pertencer a uma lista para a AEISEL, exigiu encabeça-la. Tal ato daria uma boa análise sobre os dois tipos de política: politica com “p” minúsculo – de partidos, a mais fácil – e politica com “P” maiúsculo – a cidadania, o voluntariado, a participação activa na comunidade.

Para o objectivo de uma associação de estudantes, a política prioritária deveria ser a segunda. Mas tal requer tempo, maturidade e acima de tudo responsabilidade, sem egos e sem jogos de poder – algo que nunca se viu nas ultimas direcções da AEISEL, em particular nas do também ex-autarca Frederico Saraiva (até 2010), João Assunção (até 2014) e Hugo de Carvalho (2012 a 2014), onde o bem da AEISEL e dos estudantes nunca foi prioridade. Esta sede de poder que nunca se separou do partidarismo e dos benefícios pessoais deixou pontas soltas, sendo por isso necessário um novo representante para apagar o rasto - Bernardo Barbosa.

Com isto, não quero dizer que censuro quem pertence a um partido. O que me repugna aqui são os ninhos de ratos, os que praticam a politica dos amiguismos, que não chega às pessoas e não resolve os problemas, cheia de discursos inflamados entre egos, jogos sujos e de desprezíveis “Yes, man” – dizer sim porque lhes foi imposto, sem pensar, sem debater, sem questionar.

Todos estes exemplos foram perceptíveis na última Reunião Geral de Alunos – mediante o confronto, um violento Hugo de Carvalho enraivecido quase que foi arrastado para fora da sala. Para alguém que diz que ama a democracia e a política, Bernardo devia usa-la sempre e não apenas quando lhe convém: deveria ter chamado Hugo Campos de Carvalho à razão, em vez de ignorar que “a ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento”  e tentar impedir a expulsão  e impedição de votar de Hugo Campos de Carvalho, depois deste perturbar o bom funcionamento dos órgãos democráticos; em vez de vomitar correções de minudências e discursos demagógicos repletos de tiques partidários – subtis ataques a este jornal e a outras pessoas, poderia debater, discutir. Admito que até concordei e apoiei algumas dessas correções – meras minudências, alusivas ao calendário eleitoral. Afinal, é necessário saber dar razão a quem a tem. Quanto a ideias e opiniões mais elaboradas, parece não ser capaz de as ter por vontade própria – limita-se a fazer o que lhe mandam, arremessando o que lhe pedem.



O candidato a presidente que se autonomeou, mais uma vez apelando às emoções, dizia também que se sentia magoado por ver o que ele considerava serem afrontas à democracia. Desta vez, neste jornal foi-me difícil fazer humor com isto: para quem já está na direção de uma juventude partidária de um grande concelho, ganhar uma AE é um salto para as federações, instituições, autarquias e assembleias – para quem tem más intenções, basta não ter escrúpulos e conhecer os atalhos políticos. Aqui, o que me magoa mais é saber que esta corja um dia poderá tomar decisões por muitos de nós; é saber que existem tantas pessoas como o Bernardo – aspirantes a políticos profissionais, pseudo-tecnocratas que apenas aspiram o poder. E isto magoa-me ainda mais, pois a existência de Bernardo Barbosa é uma afronta à democracia, à cidadania e ao futuro da AEISEL. IB


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